

“Somos uma sociedade de pessoas com notória infelicidade:solidão, ansiedade, depressão, destruição, dependência; pessoas que ficam felizes quando matam o tempo que foi tão difícil conquistar.”
Segundo pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da USP, coordenado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), 10.9% da população da grande São Paulo sofre de depressão, o equivalente à 2.16 milhões de pessoas na metrópole.
Segundo a pesquisa, realizada ao redor do mundo com 89 mil pessoas, São Paulo além de estar entre o grupo de 17 regiões analisadas, possui a maior taxa de depressão dentre estas. A faixa etária mais atingida pela doença esta entre 18 e 49 anos.
Nos termos da psiquiatria, a depressão se caracteriza por uma profunda tristeza acompanhada de sentimentos de desamparo e baixa auto-estima, onde não reconhece ninguém como sendo capaz de lhe prover ajuda. Somente 25% das pessoas que sofrem com a depressão procuram ajuda médica especializada e a média de 10% a 15% dos pacientes que não procuram ajuda tentam suicídio.
É comum também a auto-recriminação, sendo que o deprimido se considera uma pessoa com menos valia para o convívio humano. Em geral, quase todas as esferas da existência humana ficam comprometidos na depressão, os aspéctos emocional, fisiológico e social.
A Depressão é a doença que mais vemos em nosso dia a dia, em um momento do vazio, onde cada vez mais as pessoas perdem sua identidade e seus momentos de felicidade por conta da busca pela produtividade.
Esta é criada e mantida socialmente, como reflexo de nossos tempos, amparada pela absoluta falta de investimento social e nos relacionamentos humanos. Nossa vida é baseada no egoísmo e individualismo, que se expõe através dos sintomas da depressão.
Há um paradoxo social contemporâneo que convivemos em nosso dia a dia, pois ao mesmo tempo em que há um crescente número de pessoas que nascem todo dia, há ainda um sentimento solitário muito grande que passeia pelo dia a dia de quase todos. Existir no mundo não significa interagir com o mundo em que vivemos.
Muitas são as situações que geram esta solidão (a gerada pelo próprio poder, pela riqueza, pelo trabalho ou a falta dele, pelos pais, pelo abandono, pela rejeição ou pela falta de algo ou alguém) e em todas estas, há sempre a presença de um outro que não permitimos ou não se permite entrar em contato com nossa própria realidade. Já não se sabe quem deu o primeiro passo, se foi quem sofre com a solidão ou quem a causa.
A Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio mostra que houve um aumento significativo do número de solitários no Brasil. Entre os anos de 1988 e 1999 houve um aumento de 137%, ou seja, 3.8 milhões de pessoas que moram sozinhas, principalmente nas regiões de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Esta pesquisa não revela o sentimento de solidão (o que evidentemente revelaria um universo ainda maior desta população), apenas aponta os que moram sozinhos e também um significativo aumento de pessoas que vivem sozinhas por opção ou por imposição.
A tendência individualista de nossa época reforça o temor de conviver com as diferenças humanas, afinal, conviver com o outro implica, sobretudo, em sermos tolerante, compreenção com o outro, divisão de espaços e coisas, além da aceitação de que o outro não atenda completamente a demanda de preencher nosso vazio existencial, o que faz com que menos pessoas se arrisquem em investir em relacionamentos duradouros.
No universo dos sozinhos existem aqueles que o fizeram por opção pessoal, e aqueles que devido às contingências da vida foram obrigados a viverem desacompanhados.
O isolamento social obrigatório é muito diferente do viver sozinho “por opção”. No primeiro, existe a imposição do social ao qual fazemos parte ou das circunstâncias que estão fora de nós mesmos, no segundo, a escolha é consciente e desejada. Quando a solidão não é uma escolha torna-se difícil pensar na atuação no mundo sem sofrimento e com sentido.
O homem se acostumou a viver de forma solitária e a criar projetos individuais, o que acarretou um preço exorbitante em termos de saúde psíquica.
Todos nascemos com um objetivo, somos criados para isso, buscamos a tão sonhada felicidade e realização pessoal através de nossos sonhos.
Crescemos em um ambiente completamente consumista e o sentimento de busca é implantado em nos. Presentes parecem contratos que se sobrepõe ao ser e cria-se uma batalha interna, que somos criados para vencer.
Nunca estamos satisfeitos com o que temos e conquistamos em toda uma vida e sempre procuramos o melhor trabalho, a melhor condição social, o melhor namorado, o melhor carro, transformando assim serem humanos em máquinas programadas pra competir pelos sonhos que passaram a defender.
O lado humano, a cada dia que passa é o menos priorizado, pois não sobrou tempo para ouvir as histórias, observar as pessoas que amamos, perceber nossos próprios sentimentos e fazer as coisas que realmente trazem os momentos de felicidade em toda plenitude da palavra.
Será que os sonhos que buscamos realizar continuam sendo os nossos?
Esta reflexão é necessária, essa busca de si mesmo, essa introspecção, para que tenhamos a consciência de que talvez estejamos buscando o que já nos pertence, valorizando em outro local aquilo que temos ao nosso lado, sonhando com conquistas e objetivos que já atingimos, mas que por estarmos envolvidos demais, estressados demais, não nos damos conta, não prestamos à devida atenção.