quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Faz um tempo que não apareço por aqui... estive focada em alguns projetos em minha vida pessoal e profissional que me impossibilitaram de estar mais presente.

Mas voltei, próximo ao final do ano, para dizer o quanto este ano foi bom e o quanto o meu papel de psicóloga se enraizou a cada dia em mim, e cada paciente presente em minha vida foi importante para isso.

Acredito que o terapeuta é capaz de conhecer o paciente como ele realmente é e o que tenta esconder do resto do mundo, pois na terapia, não há medo do julgamento, apenas aceitação, escuta, acolhimento e sinceridade.

Costumo dizer aos meus pacientes que, por ter uma linha psicanalítica, procuro sempre falar o que me vem à cabeça, em qualquer momento, expressão ou fala que ele tiver e que a terapia acontece de uma forma natural e melhor quando ele próprio faz o mesmo. Deve haver sinceridade, para que este relacionamento tão lindo seja construído.

O relacionamento terapeuta versus paciente é especial e único, pois vai além da amizade ou da familiaridade, é algo como um a extensão dos desejos e sonhos do paciente e o papel do terapeuta é criar e permitir o espaço para que estes saiam da prisão que muitas vezes se colocam.

Há diversas linhas e formas de atuação do terapeuta, assim como há uma grande diversidade de pacientes com suas demandas que chegam à ele. Muitas vezes vemos a terapia não fluir com um terapeuta e fluir com outro, que possui uma linha totalmente diferente e isso é completamente normal, pois as pessoas são diferentes, assim como os terapeutas e cabe à cada paciente encontrar o que é capaz de mostrar e desenvolver o que possui de melhor, pois as teorias podem ser diferentes em termos de conceitos e nomenclaturas, mas todas tem em comum a importância do relacionamento entre terapeuta e paciente.

Com certeza, eu ganhei muito este ano com todos os pacientes que me pediram para caminhar ao seu lado e espero ter correspondido pelo menos com metade de suas expectativas.

É muito mais fácil do que imaginamos a construção e destruição de conceitos e vivências, o difícil é perceber a hora certa de cada uma destas ações.


Obrigada à todos que estiveram comigo este ano e até 2011.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

As faces da loucura (http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT832764-1719-2,00.html)

por: Camila Artoni

A própria loucura é uma palavra difícil de conceituar. João Augusto Frayze-Pereira, professor do Instituto de Psicologia da USP, autor de "O Que é Loucura", propôs o tema a universitários e pré-universitários e chegou a diversas acepções diferentes. O grupo apontou as seguintes idéias como resposta: um estado de perda de consciência; um distúrbio orgânico, a doença que existe há mais tempo ha história dos homens; um desequilíbrio emocional cuja origem é o desajustamento do indivíduo dentro da sociedade em que vive; todo tipo de desvio do comportamento pessoal em relação às normas; um estado progressivo de desligamento ou fuga da realidade; uma tomada de consciência de si e do mundo.

Todos esses enunciados cobrem, com maior ou menor precisão, a noção popular de loucura. Mas não fazem uma distinção que é essencial para a identificação do problema - loucura e distúrbio mental, hoje em dia, não são sinônimos e precisam ser entendidos como coisas diferentes.

Estado natural
Popularmente há uma tendência em se julgar a sanidade da pessoa de acordo com seu comportamento ou com sua adequação às conveniências socioculturais como, por exemplo, a obediência aos familiares, o sucesso no sistema de produção ou a postura sexual. Para a psiquiatria moderna, no entanto, doença mental é a variação capaz de prejudicar a performance da pessoa, seja no trabalho, em família ou em qualquer outra esfera social ou pessoal, afetando sua vida e a das pessoas com quem convive.

O psiquiatra e psicoterapeuta Paulo Urban explica que nem sempre a loucura pode ser associada a uma doença. Às vezes, ela é só um atributo da psique. "A loucura é associada ao transe, ao comportamento desviante. Isso pode se manifestar como genialidade ou como uma negação de normas que faz o louco ser, às vezes, até melhor adaptado do que uma pessoa 'normal'. Já as doenças mentais são um quadro grave e pedem tratamento. A loucura, em muitos sentidos, pode ser um estado natural positivo", diz o médico. "Como o louco do tarô, arquétipo do homem que está entre o tudo e o nada, superior à condição humana."

A definição de loucura como doença, aliás, é recente na civilização oriental. O seu surgimento acontece quando as incertezas científicas são abandonadas e aparece a medicina racional contemporânea. O divisor de águas é a valorização da razão. É nessa fase, e por esse motivo, que os loucos começam a ser isolados. "No mundo moderno das doenças mentais, o homem não se comunica mais com o louco", afirma Frayze-Pereira. "Com o corte entre razão e não-razão, há, de um lado, o homem racional que encarrega o médico de lidar com a loucura. E, de outro, o louco, que vive uma racionalidade abstrata. Entre eles não há linguagem comum."

Isso nem sempre foi assim. Na Antiguidade , a loucura era considerada uma manifestação divina. A epilepsia, conhecida como "a doença sagrada", significava maus presságios. Se uma pessoa sofresse um ataque epiléptico durante um comício, por exemplo, o evento era interpretado como uma intervenção dos deuses. Era um sinal de que não se deveria acreditar no que dizia o orador.

Raciocínio incomum
A existência de uma ligação entre loucura e genialidade não é consenso na comunidade científica, mas sabe-se que entre criadores excepcionais, em especial artistas, como o escritor irlandês James Joyce (1882-1941) e o pintor Amedeo Modigliani (1884-1920), uma grande parcela sofre de distúrbios psiquiátricos. O reflexo na inteligência lógica, porém, ainda está em debate. O que as pesquisas mostram é que, ao contrário do conceito popular, pessoas com esquizofrenia não são mentalmente retardadas. Na verdade, muitos desses pacientes apresentam QI ou desempenho acadêmico acima da média. O transtorno provoca problemas cognitivos, como falta de concentração e dificuldade em abstrair o pensamento, mas não afeta a inteligência. O matemático John Nash é um exemplo disso. Famoso sofredor de paranóia, foi ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1994. Para o bioquímico inglês David Horrobin (1939-2003), a esquizofrenia teria até mesmo ajudado a moldar a humanidade - sujeitos com a doença teriam um grande variedade de habilidades e interesses, fazendo a nossa evolução caminhar.
Na Idade Média, no entanto, algumas cidades confiavam os loucos a mercadores. Havia barcos que os levavam de uma cidade para outra, onde vagavam como errantes. Era comum a Europa ver naus de loucos atracarem em seus portos. Muitos outros, porém, acabavam acorrentados, exorcizados ou queimados.

Uma das razões para isso é que a psicopatologia medieval associava a loucura à possessão diabólica. E embora essa forma de pensar tenha raízes na própria formação doutrinária do cristianismo, o raciocínio acabou funcionando como uma justificativa religiosa para a repressão às heresias ou um recurso para impor a ortodoxia teológica e moral.

Assim como a idéia da loucura mudou com as épocas, existem também variações culturais. O que nós caracterizamos como loucura pode não ser para um outro grupo. A noção de loucura é diversificada e relativa, uma vez que cada grupo tem uma linguagem particular para defini-la, e essas diversas linguagens implicam também práticas diversas. Enquanto em algumas regiões o louco participa do convívio familiar, em outras o paciente é isolado. Há aqueles que, ao depararem com esses problemas, buscam soluções na religião. Outros procuram a intervenção médica ou psicológica.

Fim da linha para os alienistas
O século 17 viu aparecerem os primeiros asilos para doentes mentais. Muitas vezes essas casas funcionavam em locais onde, antigamente, estavam os leprosários. Extinto um grupo destoante, a classe de excluídos era agora outra. Precisava-se de outro fenômeno que seria seu novo bode expiatório. Os loucos foram então sistematicamente suprimidos e enclausurados.

No Brasil, o problema da instituição psiquiátrica vem sendo discutido por diversos setores da sociedade há pouco mais de 15 anos. O Movimento Nacional da Luta Antimanicomial nasceu em 1987 entre os trabalhadores de saúde mental, que decidiram se posicionar contra o encarceramento de pacientes e propor alternativas terapêuticas ao portador de transtornos psíquicos.

Mais de 60 mil pessoas estão encarceradas no país. E as formas de tratamento que assombravam os manicômios há quatro séculos não foram abandonadas, apenas modernizadas. Mesmo portadores de doenças mentais não-agressivas são submetidos a sedativos, eletrochoques, indutores de coma e até lobotomias.

À mercê da moral
Essas diferentes posturas em relação à loucura mostram que, ao longo da história, o juízo de valor foi o principal termômetro da normalidade. "Seja movido pela cultura ou por interesses mercadológicos - que é o que faz, hoje, a indústria farmacêutica ao criar medicamentos para doenças que nem existem -, um discurso sempre vence. É a ação do dominante sobre o dominado. A classificação e marginalização de algumas posturas como doenças vem, muitas vezes, do preconceito contra o que é ainda desconhecido", afirma o psiquiatra Paulo Urban.

Mais recentemente, as pesquisas começaram a apontar para causas bioquímicas das doenças mentais. A relação observada entre doenças orgânicas e mentais levantou a lebre para a existência de razões bioquímicas para distúrbios psiquiátricos, o que despertou um grande interesse pelas bases neuronais do comportamento humano. Graças a isso, as descobertas avançaram. Hoje, sabe-se o papel dos neurotransmissores e entende-se sua importância nas alterações de humor.

Enigma persiste
Mas a neurociência não é capaz de dar respostas completas sobre a causa de todos os transtornos. Há outras doenças cujas causas orgânicas permanecem obscurecidas em alguns pontos. "Pacientes com psicose, por exemplo, não apresentam nenhuma alteração biológica. Anatomicamente, seu cérebro também é perfeitamente saudável", diz Urban. "A neurociência é avançada tecnicamente, mas não é exaustiva. Por isso, não pode ser considerada o único discurso da verdade."

Mesmo com todas as tentativas de situar a loucura como doença orgânica e de tentar compreendê-la subjetivamente, nenhuma das visões ainda tirou dos loucos o estigma que eles carregam. Nos dias de hoje ainda temos vontade de afastá-los, pois não os compreendemos. São incoerentes, insensatos. Mas, afinal, quem não é?

Conheça algumas faces que a loucura pode ter


Défcit de atenção (DDA)
O que é:
Transtorno neurobiológico caracterizado por desatenção, inquietude e impulsividade
Sintomas: Dificuldades na escola e no relacionamento interpessoal, problemas com regras e limites
Como começa: Aparece na infância e freqüentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Causas são genéticas
Tratamento: Psicoterapia

Síndrome do pânico
O que é:
Ataques recorrentes de ansiedade aguda e intensa
Sintomas: Palpitações, sudorese, tremores, falta de ar, dores no peito, náusea, vertigem, ondas de frio e calor, medo da morte, medo de enlouquecer
Como começa: Causas podem ser psicológicas (reação a um estresse), físicas (ex. abuso de álcool) ou genéticas
Tratamento: Medicação com psicoterapia

Esquizofrenia
O que é:
Psicose em que o paciente se afasta da realidade e acaba construindo um mundo particular
Sintomas: Alucinações auditivas e somáticas, sensação de ter as ações controladas por algo de fora
Como começa: Sem causas conhecidas
Tratamento: Em 90% dos casos é incurável

Bipolaridade (PMD)
O que é:
Transtorno afetivo caracterizado por altos e baixos
Sintomas: O paciente apresenta períodos de intensa depressão, podendo levá-lo ao suicídio, e períodos de intensa euforia (mania) que causam graves distúrbios sociais
Como começa: Não depende de disparador; causa é genética
Tratamento: Reguladores de humor podem evitar os períodos de recaída

Personalidade múltipla
O que é:
Distúrbio dissociativo em que a pessoa se comporta como se estivesse "fora de si"
Sintomas: Mudanças bruscas de comportamento, geralmente autodestrutivas
Como começa: Pelo que se sabe até agora, é conseqüência de um sofrimento muito grande na infância ou no início da adolescência, principalmente abuso sexual
Tratamento: Medicação com psicoterapia

TOC
O que é:
Obsessão e compulsão com ansiedade extrema
Sintomas: Repetição involuntária de gestos, rituais, pensamentos e atividades, apesar da noção de que nada disso faz sentido
Como começa: Não se sabe ainda a causa exata, mas pesquisas sugerem que exista uma disfunção de neurotransmissores em certas regiões do cérebro
Tratamento: Medicação com psicoterapia

Demência
O que é:
Deterioração da função mental
Sintomas: Desorientação, perda de memória, incapacidade de interpretar aquilo que sente, ouve ou vê, dificuldade na realização das atividades cotidianas, fala e escrita comprometidas
Como começa: Pode decorrer de lesões cerebrais ou de complicações vasculares. Ocorre na velhice
Tratamento: Cirurgia

Anorexia
O que é:
Distúrbio alimentar (temor intenso de ganhar peso)
Sintomas: Emagrecimento, destruição do esmalte dentário, pele seca e amarelada, cabelos quebradiços, visão distorcida do próprio corpo
Como começa: Causa desconhecida. Provavelmente componentes psicológicos, biológicos, ambientais e culturais misturados
Tratamento: Antidepressivos, psicoterapia e orientação nutricional

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Trabalho ajuda no tratamento de pessoas com esquizofrenia, confirma estudo

Terça, 14 Setembro 2010 14:19
por: O Estado de S.Paulo

O trabalho melhora de forma significativa o desempenho intelectual de pessoas com esquizofrenia, além de diminuir sintomas da doença, como apatia e isolamento. É o que mostra um estudo do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq-USP).

"As pesquisas realizadas até agora mostravam que pacientes com melhor desempenho cognitivo tinham mais chances de ingressar no mercado profissional", aponta Wagner Gattaz, presidente do conselho do IPq e um dos autores do trabalho. "Comprovamos que a relação inversa também é verdadeira: como diz o ditado, "trabalho faz bem para a cabeça"."

O estudo, publicado na revista científica Schizophrenia Research, reúne os resultados do Programa Reação, iniciativa do IPq que, de outubro de 2003 a abril de 2010, conseguiu inserir cerca de cem pacientes em estágios de reabilitação vocacional em São Paulo. Empresas parceiras acolhiam os estagiários sem nenhum ônus. O programa oferecia bolsa mensal de R$ 200 como ajuda de custo para os pacientes.

A ideia do programa surgiu quando Gattaz lecionava na Universidade Heildelberg, na Alemanha. Ele implantou uma ação semelhante em Mannheim, incorporada mais tarde pelo programa local de seguridade social.

A neuropsicóloga Danielle Soares Bio, que também assina o estudo, enumera o perfil dos participantes: pessoas que, em média, conviviam com a esquizofrenia por mais de oito anos e iniciaram o tratamento por volta dos 21 anos. Como pré-requisitos, elas deveriam apresentar boa adesão ao tratamento com os remédios prescritos pelo psiquiatra e quadro clínico estável durante os seis meses anteriores ao programa.

Não havia nenhuma obrigação das empresas parceiras de contratarem os estagiários. Mesmo assim, 42% foram efetivados. "O porcentual seria ainda maior se todos os pacientes contassem com o apoio da família", pondera Danielle, recordando que algumas famílias receavam abrir mão do seguro-desemprego.

Para Gattaz, o trabalho mostra o desejo dessas pessoas de reencontrarem seu lugar na sociedade. "Também sugere que parte da diminuição do rendimento cognitivo é fruto da inatividade, da baixa estimulação intelectual", afirma o pesquisador.

Marcelo (nome fictício) participou do Programa Reação. Depois de seis meses trabalhando em uma organização não governamental na região central de São Paulo, recebeu o convite para ingressar no quadro de funcionários. "Fiquei contente, pois gosto muito do ambiente daqui", diz ele. "A oportunidade ajudou no meu tratamento." Marcelo fala com orgulho do trabalho realizado em uma instituição que promove valores como o aprofundamento da democracia e a responsabilidade ecológica. "Agora, sinto-me útil", resume.

Os depoimentos de empresários também revelam satisfação com o programa. Danielle recorda que, antes e depois do estágio, o empregador também passa por um teste que estima o grau de compreensão e tolerância com transtornos mentais. "Empresas que atuam como parceiras já são instituições com boa consciência social", aponta. "Mesmo assim, com o programa, notamos que muitos receios e incertezas desaparecem."

Nos últimos meses do projeto, pessoas com outros transtornos mentais - como depressão e transtorno bipolar - também participaram do programa. Elas não foram consideradas no estudo publicado na Schizoprenia Research. O trabalho comparou 57 pacientes com esquizofrenia que ingressaram no estágio e um conjunto de 55 pessoas com o mesmo diagnóstico que estava na lista de espera. Gattaz confia na eficácia da estratégia para outros transtornos mentais.

Segundo dados do Ministério da Previdência Social, 13.478 pessoas receberam auxílios-doença por transtornos mentais e comportamentais no ano passado.

Números concernentes:

42 empresas participaram do projeto

42% dos estagiários do programa foram contratados

Fonte: Estadão

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Artigo postado em: http://www.revistafeminina.com.br em 09/09/2010

Relacionamento Por Conveniência

Quem já não manteve um relacionamento por conveniência, em busca de seu próprio bem estar, havendo a anulação do outro como indivíduo desejante no relacionamento, que atire a primeira pedra.

Há diversas formas de se relacionar por conveniência, e não apenas em um relacionamento amoroso, muitas vezes, encontramos em nossa vida pessoas que se relacionam com todas as outras por um único objetivo: seu próprio bem estar e prazer.

Há um sentimento de narcisismo presente em todos estes relacionamentos, onde tudo o que é feito, passa pelo pensamento sobre si mesmo, anulando o outro como participante ativo no relacionamento ou se anulando completamente para ser aceito e não perder a posição que o relacionamento lhe possibilita.

Narcisismo é o encantamento e a paixão que sentimos por nossa própria imagem, nós mesmos, porque não conseguimos diferenciar um do outro. Conta o mito que o jovem Narciso, que era belíssimo, nunca tinha visto sua própria imagem. Um dia, passeando por um bosque, encontrou um lago, ao aproximar-se viu nas águas um jovem de extraordinária beleza, pelo qual apaixonou-se perdidamente. Desejava que o jovem saísse das águas e viesse ao seu encontro, mas como ele parecia recusar-se a sair do lago, Narciso mergulhou até as profundezas à procura do outro que fugia e morreu afogado. Narciso morrera de amor por si mesmo, ou melhor, de amor por sua própria imagem que não identificou como sendo dele.

Em 1914, Freud - o pai da psicanálise - afirma que abrem-se para o indivíduo duas possibilidades que se apresentam como uma alternativa no início da vida: ou o sujeito toma o outro (a mãe) como objeto de amor, ou toma a si mesmo. Diz, porém, que se a escolha do sujeito recair sobre ele mesmo, ou seja quando o seu objeto de amor for única e exclusivamente ele mesmo, haverá conflitos que impõem um sofrimento e uma ameaça.

O narcisismo é importante no início da vida, para a constituição de si mesmo e do Ego, porém, a partir do momento em que ele passa a ser um obstáculo nas relações, deve ser cuidado.

Tanto os últimos artigos psicanalíticos quanto os discursos sociais de todas as ordens acreditam que o narcisismo reina soberano como o grande malvado, como obstáculo para o desenvolvimento de relações menos dolorosas e mais vazia, na era contemporânea.

Se observarmos a paisagem desenhada ao nosso redor após o vendaval revolucionário dos anos 70, veremos que os relacionamentos em todas as ordens, incluindo o conjugal, apresentam-se mutáveis e movimentados. A antiga estabilidade da família nuclear parece ameaçada pelos casamentos desfeitos, os papéis masculinos e femininos foram radicalmente alterados e o amor já não goza do mito de eternidade. Nos questionamos se há ainda o amor.

O narcisismo e o amor não existem da mesma forma, em um mesmo lugar, pois o narcisismo é a não capacidade de amar o outro por estar voltado a si mesmo.

Observamos relacionamentos cada vez mais meteóricos na era
pós industrial, em que há uma busca incessante pelo prazer, onde a vida precisa ser desfrutada e para isso é necessário que se possua tudo que for desejável, de objetos a pessoas. Tudo é tratado como mercadoria, podendo então ser comprado, descartado e manipulado conforme sua própria vontade.

Se há a necessidade de algo como atenção, amor, sexo proteção, se há carência, há um motivo para a busca do que falta, sem pensar nas conseqüências para si mesmo ou o outro que é envolvido nesta relação.

A partir destas necessidades narcísicas, os relacionamentos por conveniências são criados, relacionamentos por dinheiro, por posição social, aparência, carência ou qualquer outro motivo que torne o relacionamento esvaziado, perduram por muitos anos sem a importância pela dor, pois há uma anulação em prol do objetivo que é o si mesmo.

Deve haver um questionamento quanto à posição de cada um no relacionamento: vale a pena a anulação, para qualquer que seja o objetivo?

Psicorienta: O que faz você Feliz???

Psicorienta: O que faz você Feliz???

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Depressão

“Somos uma sociedade de pessoas com notória infelicidade:solidão, ansiedade, depressão, destruição, dependência; pessoas que ficam felizes quando matam o tempo que foi tão difícil conquistar.”

Erich Fromm

Segundo pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da USP, coordenado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), 10.9% da população da grande São Paulo sofre de depressão, o equivalente à 2.16 milhões de pessoas na metrópole.

Segundo a pesquisa, realizada ao redor do mundo com 89 mil pessoas, São Paulo além de estar entre o grupo de 17 regiões analisadas, possui a maior taxa de depressão dentre estas. A faixa etária mais atingida pela doença esta entre 18 e 49 anos.

Nos termos da psiquiatria, a depressão se caracteriza por uma profunda tristeza acompanhada de sentimentos de desamparo e baixa auto-estima, onde não reconhece ninguém como sendo capaz de lhe prover ajuda. Somente 25% das pessoas que sofrem com a depressão procuram ajuda médica especializada e a média de 10% a 15% dos pacientes que não procuram ajuda tentam suicídio.

É comum também a auto-recriminação, sendo que o deprimido se considera uma pessoa com menos valia para o convívio humano. Em geral, quase todas as esferas da existência humana ficam comprometidos na depressão, os aspéctos emocional, fisiológico e social.

A Depressão é a doença que mais vemos em nosso dia a dia, em um momento do vazio, onde cada vez mais as pessoas perdem sua identidade e seus momentos de felicidade por conta da busca pela produtividade.

Esta é criada e mantida socialmente, como reflexo de nossos tempos, amparada pela absoluta falta de investimento social e nos relacionamentos humanos. Nossa vida é baseada no egoísmo e individualismo, que se expõe através dos sintomas da depressão.

Há um paradoxo social contemporâneo que convivemos em nosso dia a dia, pois ao mesmo tempo em que há um crescente número de pessoas que nascem todo dia, há ainda um sentimento solitário muito grande que passeia pelo dia a dia de quase todos. Existir no mundo não significa interagir com o mundo em que vivemos.

Muitas são as situações que geram esta solidão (a gerada pelo próprio poder, pela riqueza, pelo trabalho ou a falta dele, pelos pais, pelo abandono, pela rejeição ou pela falta de algo ou alguém) e em todas estas, há sempre a presença de um outro que não permitimos ou não se permite entrar em contato com nossa própria realidade. Já não se sabe quem deu o primeiro passo, se foi quem sofre com a solidão ou quem a causa.

A Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio mostra que houve um aumento significativo do número de solitários no Brasil. Entre os anos de 1988 e 1999 houve um aumento de 137%, ou seja, 3.8 milhões de pessoas que moram sozinhas, principalmente nas regiões de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Esta pesquisa não revela o sentimento de solidão (o que evidentemente revelaria um universo ainda maior desta população), apenas aponta os que moram sozinhos e também um significativo aumento de pessoas que vivem sozinhas por opção ou por imposição.

A tendência individualista de nossa época reforça o temor de conviver com as diferenças humanas, afinal, conviver com o outro implica, sobretudo, em sermos tolerante, compreenção com o outro, divisão de espaços e coisas, além da aceitação de que o outro não atenda completamente a demanda de preencher nosso vazio existencial, o que faz com que menos pessoas se arrisquem em investir em relacionamentos duradouros.

No universo dos sozinhos existem aqueles que o fizeram por opção pessoal, e aqueles que devido às contingências da vida foram obrigados a viverem desacompanhados.

O isolamento social obrigatório é muito diferente do viver sozinho “por opção”. No primeiro, existe a imposição do social ao qual fazemos parte ou das circunstâncias que estão fora de nós mesmos, no segundo, a escolha é consciente e desejada. Quando a solidão não é uma escolha torna-se difícil pensar na atuação no mundo sem sofrimento e com sentido.

O homem se acostumou a viver de forma solitária e a criar projetos individuais, o que acarretou um preço exorbitante em termos de saúde psíquica.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010



Todos nascemos com um objetivo, somos criados para isso, buscamos a tão sonhada felicidade e realização pessoal através de nossos sonhos.



Crescemos em um ambiente completamente consumista e o sentimento de busca é implantado em nos. Presentes parecem contratos que se sobrepõe ao ser e cria-se uma batalha interna, que somos criados para vencer.



Nunca estamos satisfeitos com o que temos e conquistamos em toda uma vida e sempre procuramos o melhor trabalho, a melhor condição social, o melhor namorado, o melhor carro, transformando assim serem humanos em máquinas programadas pra competir pelos sonhos que passaram a defender.



O lado humano, a cada dia que passa é o menos priorizado, pois não sobrou tempo para ouvir as histórias, observar as pessoas que amamos, perceber nossos próprios sentimentos e fazer as coisas que realmente trazem os momentos de felicidade em toda plenitude da palavra.



Será que os sonhos que buscamos realizar continuam sendo os nossos?

Esta reflexão é necessária, essa busca de si mesmo, essa introspecção, para que tenhamos a consciência de que talvez estejamos buscando o que já nos pertence, valorizando em outro local aquilo que temos ao nosso lado, sonhando com conquistas e objetivos que já atingimos, mas que por estarmos envolvidos demais, estressados demais, não nos damos conta, não prestamos à devida atenção.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

" A Psicanálise é, em essência, uma cura pelo amor.”

Sigmund Freud






Você sabe o que é Psicanálise?

Psicanálise é um estudo, uma ciência desenvolvida por Sigmund Freud como método de tratamento de distúrbios nervosos ou psíquicos.

O método é o da catarse, que consiste em estabelecer relação entre tudo o que o paciente leva à terapia, desde conversas, comentários, sonhos e todos os outros sinais do inconsciente.

A psicanálise considera três niveis de consciência: Consiente, pré-consciente e insconsciente



O método psicanalítico de Sigmund Freud, consistia em estabelecer relações entre tudo aquilo que o paciente lhe mostrava, desde conversas, comentários feitos por ele, até os mais diversos sinais dados do inconsciente.


A psicanalise é muito ampla e possui diversos autores que se colocam como Freudianos: Raich, Lacan, Klein, Winnicott , Melanie Klein entre outros, que desenvolveram técnicas e conceitos a partir do corpo teorico e tecnica de Freud.

O trabalho de Freud é especial e perdura por mais de 100 anos, com uma responsabilidade que desempenhou na cultura, pois Freud diz que a psicanalise ensinou que o homem nao é o dono de sua própria casa, assim como Darwin ensinou que não somos a imagem e semelhança de deus e sim de evolução das espécies, como Galileu e Coperni que mostraram que a terra nao é o centro do universo, Freud nos ensinou que não somos donos de nossa própria vontade e em termos culturais, no Sec. XX esta afirmação foi um revolução no pensamento, nas artes e no direito.




Vamos falar sobre Psicanálise?

É um grupo de estudos que foi criado para a discussão de temas referentes a psicanálise.

Em cada encontro é abordado um tema específico sobre psicanálise, de Freud e outros autores "Pós-Freudianos", além de compreender e criar um diálogo entre a cultura, a antropologia, filosofia e arte.

Os grupos são limitados à 10 pessoas e os encontros são semanais, com duração de 01 hora.


Local dos encontros: Tatuapé.
Valor por encontro: R$ 15,00


Os interessados devem se inscrever através do e-mail: vanessa.caramelo@uol.com.br

domingo, 8 de agosto de 2010

O que é ser pai?

O que é ser pai?

A função do pai não é apenas de dar suporte à mãe aos cuidados com seu bebê, é muito mais do que isso. O pai é quem impõe a lei à criança e é somente apartir desse ato que esta é capaz de se tornar um adulto saudável.

Na literatura psicanalítica, podemos perceber em diversos momentos a importância do pai no desenvolvimento do homem, e também o que a falta deste pai pode representar.

Não importa o autor, a teoria ou o momento, a figura do pai sempre será a do cuidador e protetor, que oferece seu amor e sua vida ao seu filho.

"Os nossos pais amam-nos porque somos seus filhos, é um fato inalterável. Nos momentos de sucesso, isso pode parecer irrelevante, mas nas ocasiões de fracasso, oferecem um consolo e uma segurança que não se encontram em qualquer outro lugar."(Bertrand Russell)

Parabéns a todos os pais que são para alguém o que meu pai é para mim.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Para Celebrar o Envelhecer

Este texto apareceu em uma boa ocasião... sempre é bom rever nossos conceitos e refazer nossos passos, independente de quantos anos temos.

Se questionar faz bem e ter coragem para mudar faz crescer, mesmo sendo difícil no início.

Aproveitem o texto:

"Para celebrar o envelhecer, uma vez eu escrevi 45 lições que a vida me ensinou. É a coluna mais requisitada que eu já escrevi. Meu taxímetro chegou aos 90 em agosto, então, aqui está a coluna, mais uma vez:
(ESCRITO POR REGINA BRETT, 90 ANOS, CLEAVELAND, OHIO.)

1. A vida não é justa, mas ainda é boa.
2. Quando estiver em dúvida, apenas dê o próximo pequeno passo.
3. A vida é muito curta para perdermos tempo odiando alguém.
4. Seu trabalho não vai cuidar de você quando você adoecer. Seus amigos e seus pais vão. Mantenha contato.
5. Pague suas faturas de cartão de crédito todo mês.
6. Você não tem que vencer todo argumento. Concorde para discordar.
7. Chore com alguém. É mais curador do que chorar sozinho.
8. Está tudo bem em ficar bravo com Deus. Ele agüenta.
9. Poupe para a aposentadoria, começando com seu primeiro salário.
10. Quando se trata de chocolate, resistência é em vão.
11. Sele a paz com seu passado, para que ele não estrague seu presente.
12. Está tudo bem em seus filhos te verem chorar.
13. Não compare sua vida com a dos outros. Você não tem idéia do que se trata a jornada deles.
14. Se um relacionamento tem que ser um segredo, você não deveria estar nele.
15 Tudo pode mudar num piscar de olhos; mas não se preocupe, Deus nunca pisca.
16. Respire bem fundo. Isso acalma a mente.
17. Se desfaça de tudo que não é útil, bonito e prazeroso.
18. O que não te mata, realmente te torna mais forte.
19. Nunca é tarde demais para se ter uma infância feliz. Mas a segunda só depende de você e mais ninguém.
20. Quando se trata de ir atrás do que você ama na vida, não aceite "não" como resposta.
21. Acenda velas, coloque os lençóis bonitos, use a lingerie elegante. Não guarde para uma ocasião especial. Hoje é especial.
22. Se prepare bastante; depois, se deixe levar pela maré...
23. Seja excêntrico agora, não espere ficar velho para usar roxo.
24. O órgão sexual mais importante é o cérebro.
25. Ninguém é responsável pela sua felicidade, além de você.
26. Encare cada "chamado" desastre com essas palavras: Em cinco anos, vai importar?
27. Sempre escolha a vida.
28. Perdoe tudo de todos.
29. O que outras pessoas pensam de você não é da sua conta.
30. O tempo cura quase tudo. Dê tempo.
31. Indepedentemente de a situação ser boa ou ruim, irá mudar.
32. Não se leve tão a sério. Ninguém mais leva...
33. Acredite em milagres.
34. Deus te ama por causa de quem Ele é, não pelo que vc fez ou deixou de fazer.
35. Não faça auditoria de sua vida. Apareça e faça o melhor dela agora.
36. Envelhecer é melhor do que morrer jovem.
37. Seus filhos só têm uma infância.
38. Tudo o que realmente importa, no final, é que você amou.
39. Vá para a rua todo dia. Milagres estão esperando em todos os lugares.
40. Se todos jogássemos nossos problemas em uma pilha e víssemos os de todo mundo, pegaríamos os nossos de volta.
41. Inveja é perda de tempo. Você já tem tudo o que precisa.
42. O melhor está por vir.
43. Não importa como vc se sinta, levante, se vista e apareça.
44. Produza.
45. A vida não vem embrulhada em um laço, mas ainda é um presente "

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

“O manicômio é um espaço de isolamento e encobrimento do real. Não há questões, não há problemas, tudo funciona de acordo com um conjunto de regras de fácil assimilação. As paredes do manicômio discriminam precisamente quem é normal, do lado de fora, e quem é louco, do lado de dentro.” (Delgado, 1991, p.20)


Esta semana, o programa A Liga, apresentado pelo Rafinha Bastos e exibido pela TV Band, tratou sobre um tema polêmico e importante para todos aqueles que lutam pelos direitos humanos: Saúde Mental.

No programa, foram retratados dois cenários distintos, relacionados aos modelos de tratamento em saúde mental. Um deles é o sistema tradicional de encarceiramento, que provém da psiquiatria e o o sistema substitutivo e humanizado, proveniente da reforma psiquiátrica.

Este primeiro modelo parte de uma luta constante e diária em colocar o louco como diferente e perigoso, promovendo assim o encarceiramento em instituições longe do contato humano e social e evitar o “contágio”.

O conceito de loucura se constrói socialmente, pois só se percebe como o outro é diferente no momento em que ele se relaciona e é comparado. Conceitos de “normalidade”, “racionalidade” e “saúde” são criados e tudo o que está fora deste padrão criado, é exluído.

E o doente mental, por sua vez, é obrigado a se identificar e assumir este papel social imposto como única forma de vivência, aceitando assim seu papel social.

E a Luta Antimanicomial, como a Reforma Psiquiátrica ficou conhecido no Brasil é uma crítica a este modo de pensar e imposição, pois prevê um tratamento através da ótica dos Direitos Humanos, valorizando o indivíduo e sua vida ampliada no social e individual.

Para entendermos um pouco sobre os modelos de tratamento criados para conter e cuidar dos doentes mentais, devemos entender de onde vem o modelo tradicional de tratamento.

O diagnostico e tratamento da doença mental tradicional se estabeleceu através da psiquiatria, que observou os sintomas que se originaram no organismo do indivíduo, como a histeria, mania, psicose, paranóia, depressão, etc.

Até hoje, este conceito representa uma grande parcela dos profissionais de saúde. Contudo, a partir de uma corrente de resistências como a antipsiquiatria, comecaram a estabelecer conceitos que se diferenciam desta psiquiatria convencional, propondo ums reforma psiquiátrica.

Esta reforma psiquiátrica prevê um novo modelo de tratamento, até então inexistente e impensável pelos profissionais da saúde, pois a partir deste, é oferecida uma autonomia ao doente mental, que nunca foi dada antes, agora, o doente pode ser responsável por sua vida e por seus atos e não mais assumir o papel de “paciente” não apenas em sua doença, mas em sua vida.

Os hospitais psiquiátricos, em sua antiga forma, são criados para manter, classificar e diagnosticar os doentes mentais, que são frutos da própria sociedade em que vivem.

No momento em que este sistema não existe, há um movimento de substituir os antigos modelos para então haver a reconstrução de novas soluções e desafios em prol de transformar a história no sentido positivo. Este é o objetivo da reforma psiquiátrica, o emprenho dos envolvidos em formar e transformar um novo espaço de vivência.

Desde muito tempo, pensa-se em tipos de tratamento para os doentes mentais. Surge no Egito, 25 a.C., a comunidade terapêutica com a finalidade de curar a servir. Os membros desta comunidade viviam em casas próximas o suficiente para proteção, e ao mesmo tempo longe o suficiente para não atrapalhar a sua individualidade.

Porém, atualmente, esta não é a realidade das instituições de tratamento mais conhecidas e apoderadas por esta autonomia.

Durante a história da humanidade, diversos pioneiros surgiram, tentando estabelecer novas formas de comunidade terapêutica, como Maxwell Jones, Wilmer, Artiss e Cooper.

Todos os nomes da antipsiquiatria, que lutaram por uma forma de tratamento ético, tiveram uma participação muito significativa, combatendo o conceito presente em toda história da psiquiatria, onde instituições são criadas para controlar estes pacientes, que destoam a ordem social, com o uso de repressão física, da camisa-de-força e dos medicamentos e eletrochoques utilizados na psiquiatria moderna.

Os movimentos pela inclusão, que vão contra esta forma de atuação proveniente da psiquiatria, defendem que o paciente deve possuir uma autonomia, ou seja, este deve ser independente dos enfermeiros no hospital, assim como de seus pais.
A reforma psiquiátrica deve vir através de uma mudança no pensamento social, a fim de modificar a visão estereotipada da loucura, nos dando a possibilidade de conhecer o outro em sua originalidade e a partir desta, conhecer nossas próprias limitações em relação ao outro e a nos mesmos.

















quarta-feira, 28 de julho de 2010


"Se um dia ou uma noite, um demônio se esgueirasse até você e, penetrando na sua mais solitária solidão, lhe dissesse: "Esta vida, da maneira como você vive agora e já viveu antes, você terá que vivê-la mais uma vez e outras inumeráveis vezes; e não haverá nada de novo nela, mas cada tormento e cada alegria e cada pensamento ou suspiro e cada coisa imensuravelmente pequena ou grande em sua vida, deverá retornar a você — tudo na mesma sucessão e seqüência..." Como não atirar-se ao chão, rangendo os dentes e amaldiçoando o demônio que assim lhe falou? Ou você alguma vez já experimentou aquele formidável momento em que teria respondido a ele: "És um deus, e jamais havia escutado algo mais divino."... Como teria você se tornado tão bem disposto perante você mesmo e a vida para chegar a não desejar coisa alguma mais ardentemente que este supremo desígnio e esta confirmação eterna?" -(Nietzsche)

A vida só tem valor pois é passível de perda e a dor. A vida é falível, imperfeita e o fato de não desejarmos vivê-la novamente e eternamente, não implica desconhecer seu valor, mas sim em valorizar estes momentos possíveis de perda e dor. Não desejamos morrer, pois na morte não existe perda, dor... não existe vazio e por isso não existe a vida.

A motivação da vida é a dor que ela proporciona, pois se quisessemos paz, haveria a morte.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Nos estamos tão acostumados a viver nossas vidas querendo ou não alguma coisa, que as vezes não paramos pra pensar se é realmente nossa vontade falando.

Somente quem é pode desejar e em minha experiência clínica percebo um "mal comum", onde os pacientes que chegam ao meu consultório derivam de uma ausência de desejo, proveniente da ausência de Self, de ser.

Self significa si mesmo e é o conhecimento que o indivíduo tem de si mesmo e de suas próprias ações e relacionamentos interpessoais. É como o indivíduo se percebe e se constitui no mundo.

É o self que permite que o sujeito se apresente ao mundo como um ser desejante, com querer próprio e sem ele não podemos ser e estar no mundo de forma saudável, apenas vivemos através das experiências dos outros e não a partir de nossas próprias vivências.

Através da psicanálise, aprendemos que o Self só existe através das relações que se estabelecem no início da vida. Para Winnicott, esta relação importante se dá através do encontro entre a mãe e o bebê e é a partir deste que o bebê se tornará um corpo e que posteriormente, se constituará como um adulto saudável e desejante no mundo.

A mãe é o primeiro ambiente do bebê e esta exerce a função de integrar ao bebê um ambiente externo e novo possibilitando então o desenvolvimento individual. É a mãe que permite que a criança inicie um processo real de desenvolvimento, ou seja, oferece um apoio a esta que possui um Self fraco e forte ao mesmo tempo. Neste momento, o bebê não existe ainda no mundo, existe apenas através do olhar da mãe.

Portanto, o que permite que o bebê se constitua como um individuo desejante é a mãe, que significa o bebê como um corpo. A mãe intui o corpo do bebê em seu tempo e espaço próprio e é capaz então de criar o bebê e seu corpo através de encontros, desencontros e significados. Para Winnicott, o corpo não se constitui somente através do biológico e sim também de todas as experiências vividas através das relações iniciais. O adulto se constitui e se relaciona como aprendeu na infância.

Por isso, deve haver um espelhamento entre a mãe e o bebê que permite a estruturação do self. A mãe deve permitir ser criada pelo bebê e esta deve então tornar o bebê um ser que experimenta da criatividade e posteriormente do desejo.

O analista frente ao paciente possui a mesma função que a mãe frente ao bebê. É somente através desta relação que se dá uma analise satisfatória.

Nesta, é o outro que deve conduzir e induzir o tempo e o espaço, para que o analista possa então estar e entender o outro que se apresenta, como ele realmente é.

Nosso papel de analista é muito importante para a vida e constituição de muitos dos outros que se apresentam a nos, em nossos consultórios e em nossas vidas, tornando serem não desejantes, que não possuem um self verdadeiro e real em adultos que "...sintam que estão vivendo sua própria vida, asumindo responsabilidades pela ação ou pela inatividade, e sejam capaz de assumir os aplausos pelo sucesso ou as censuras pelas falhas. Em outras palavras, pode-se dizer que o indivíduo emergiu da dependência para a independência, ou a autonomia." (Winnicott, 2006)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Grupo de Estudos - Introdução à Psicanálise

Grupo de estudos - Introdução à Psicanálise.

A Pulsãoe suas vicissitudes, Transferência e Contra-transferência, Repetição em Psicanálise, introdução à autores discípulos de Freud.

Início grupo: Setembro/2010
10 Encontros semanais, com duração de 01 hora.
2 parcelas de 150,00 ou a vista 5% de desconto.

Local: Tatuapé - SP

Interessados entrar em contato através do e-mail: vanessa.caramelo@uol.com.br ou telefone: (11) 8463-6000.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Neste próximo sábado, dia 29/05 às 12 na Escola de Enfermagem da USP ocorre a III Feira de Saúde Mental e Economia Solidária – Pelo Direito ao Trabalho, com diversidade e solidariedade.

O objetivo deste evento é o de apresentar os produtos feitos por usuários do sistema de saúde e fortalecer a cultura antimanicomial e da economia solidária.

Vale a pena conferir, pois será um evento bem divertido e muito significativo.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

No dia 18 de Maio, devemos comemorar mais um Dia Nacional da Luta AntiManicomial no Brasil.

A Reforma Psiquiátrica, mais conhecida como Luta AntiManicomial teve início no Brasil em 1987 em Bauru e tem por objetivo uma sociedade mais justa, onde os direitos humanos são a base, e nesta, todos tem direitos de viver em liberdade e com qualidade.

Um grande marco da Luta Antimanicomial foi a criacao da Lei do Paulo Delgado, Lei 10216 de 2001, que visa a reformulação do modelo de Atenção à Saúde Mental, que antes se concentra em instituições hospitalares para uma Rede de Atenção Psicossocial, estruturada em Unidades de Serviço comunitários e abertos.

Nestes anos, em que há uma Luta AntiManicomial consciente e aberta, o conceito da Loucura foi modificando e mesmo ainda possuindo conceitos que fazem com que estes sejam excluídos mudanças positivas já aconteceram... algo está acontecendo e a tendência é a transformação de todo o significado de uma vivência.

Mudar a história não é fácil, o que é fácil é acreditar e ter o sonho de que um dia, viveremos em uma sociedade justa, onde os Direitos Humanos são preservados.
Em todo relacionamento sempre achamos que precisamos da pessoa muito mais do que realmente precisamos e isso é a magia do relacionamento, é o que nos faz querer sair com a pessoa que está ali na nossa frente, e isso se repete por mais de uma vez, quando a paixão realmente acontece.

Aristófanos nos conta que na mitologia, os seres humanos eram divididos em 3 gêneros: feminino, masculino e o que possuía ambas características e por isso era dotado de grande poder e resistência. Com o passar do tempo, estes seres completos - femininos e masculinos - começaram a conspirar contra os Deuses e Zeus resolveu então dividi-los, os torna partes incompletas e incapazes de se unirem. A partir daí cada parte viveu em busca do que lhe completa, de sua outra metade.

Todos desejam ser amados, mesmo que não se fale sobre isso. O amor nos traz a idéia e a sensação de plenitude, ou seja, seremos completos somente se tivermos alguém para amar e se formos amados.

Freud inclui neste contexto a teoria das pulsões, que são os desejos em busca de satisfação. O homem vive em uma repetição,do objetivo de satisfazer-se a partir de suas pulsões. E estas pulsões nunca são satisfeitas de forma plena.

Assim como a meta da pulsão é satisfazer-se, a meta do amor é encontrar-se. A pulsão possui como rumo o amor, que não é apenas o belo, mas também o feio e odioso.

O amor pelo odioso sufoca, não dá lugar ao outro de forma saudável, o desfigura e transforma. Este amor é patológico, psicótico e muito se assemelha ao amor do ser apaixonado, que transforma o outro amado em único, onipresente em si mesmo. O ser apaixonado consegue o impossível, e como, a paixão não dura.

Todos nos possuímos defeitos e devemos conviver com estes. O amor apaixonado não permite defeitos, não permite o real. Será essa pessoa amada uma pessoa realmente?
Estes desejos que são jogados no outro causam uma série de sofrimentos por amor, onde o apaixonado busca no outro um amor impossível e totalmente criado por seus próprios desejos. Há uma busca pela essência do ser amado, que está ligada a busca por nossa própria essência e a transferência destas em forma de desejos, vistos no ser amado.

O objeto de amor é uma escolha que não se dá por acaso. Para Freud, há dois tipos de escolhas do objeto amado que podem aparecer mescladas,ou seja, aparecem hora uma, hora outra: a escolha narcísica e a analítica. O amor narcísico, por exemplo, é muito comum na paixão, onde o amado corresponde ao si mesmo, ao que foi, ou ao que pode e quer vir a ser.

Será que o amor não é sempre um amor narcísico?

O amor real existe quando os defeitos aparecem, e o eu não esta mais presente no outro de forma narcísica. Quando este outro agora é cheio de defeitos e fraquezas, pode-se dizer que a paixão virou amor real. É o amor pelo outro real. O amor passa a existir frente a dois e não mais apenas um desejo.

Segundo Sócrates, o amor não pode ser belo, pois o amor é falta, ou seja, o amor sempre vem do que se gostaria de possuir e de ser, portanto, é sempre um amor narcísico.

O amor, para Freud é repetição, o objeto de amor é sempre repetido, onde encontrar o objeto amado é sempre reencontrá-lo, é substituto de um objeto anterior e matricial que pode ser criado no Édipo.

Toda relação é de transferência, de repetição. Buscamos no outro e nas relações algo perdido e assim como no amor, na terapia a transferência acontece. “A psicanálise é em essência uma cura por amor”. O amor pelo qual Freud se refere aqui, é o amor como conduta, ética de entender que o sofrimento é uma condição humana, onde o papel do terapeuta é acompanhar outro, sem tomar seu lugar ou viver seu sofrimento, apenas acompanhá-lo.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Entrei para o mundo dos blogs e antes de mais nada, gostaria de me apresentar.

Sou uma garota comum, com uma paixão muito concreta - muitos não encontram paixão nenhuma durante a vida toda e me sinto privilegiada em ter várias (teremos oportunidade de falar sobre todas elas), mas uma delas é a Psicologia.

Desde sempre fui uma curiosa pelos comportamentos e reações humana e isso me trouxe aqui, me formei em psicologia e a prática me ajudou a amar mais esta profissão, assim como seu objeto de estudo, a cada dia.

E é isso que quero compartilhar aqui, meus sentimentos em forma de idéias , ideais e pensamentos.

Espero que gostem e que possamos trocar boas experiências e construir muitos pensamentos juntos.