quinta-feira, 5 de agosto de 2010

“O manicômio é um espaço de isolamento e encobrimento do real. Não há questões, não há problemas, tudo funciona de acordo com um conjunto de regras de fácil assimilação. As paredes do manicômio discriminam precisamente quem é normal, do lado de fora, e quem é louco, do lado de dentro.” (Delgado, 1991, p.20)


Esta semana, o programa A Liga, apresentado pelo Rafinha Bastos e exibido pela TV Band, tratou sobre um tema polêmico e importante para todos aqueles que lutam pelos direitos humanos: Saúde Mental.

No programa, foram retratados dois cenários distintos, relacionados aos modelos de tratamento em saúde mental. Um deles é o sistema tradicional de encarceiramento, que provém da psiquiatria e o o sistema substitutivo e humanizado, proveniente da reforma psiquiátrica.

Este primeiro modelo parte de uma luta constante e diária em colocar o louco como diferente e perigoso, promovendo assim o encarceiramento em instituições longe do contato humano e social e evitar o “contágio”.

O conceito de loucura se constrói socialmente, pois só se percebe como o outro é diferente no momento em que ele se relaciona e é comparado. Conceitos de “normalidade”, “racionalidade” e “saúde” são criados e tudo o que está fora deste padrão criado, é exluído.

E o doente mental, por sua vez, é obrigado a se identificar e assumir este papel social imposto como única forma de vivência, aceitando assim seu papel social.

E a Luta Antimanicomial, como a Reforma Psiquiátrica ficou conhecido no Brasil é uma crítica a este modo de pensar e imposição, pois prevê um tratamento através da ótica dos Direitos Humanos, valorizando o indivíduo e sua vida ampliada no social e individual.

Para entendermos um pouco sobre os modelos de tratamento criados para conter e cuidar dos doentes mentais, devemos entender de onde vem o modelo tradicional de tratamento.

O diagnostico e tratamento da doença mental tradicional se estabeleceu através da psiquiatria, que observou os sintomas que se originaram no organismo do indivíduo, como a histeria, mania, psicose, paranóia, depressão, etc.

Até hoje, este conceito representa uma grande parcela dos profissionais de saúde. Contudo, a partir de uma corrente de resistências como a antipsiquiatria, comecaram a estabelecer conceitos que se diferenciam desta psiquiatria convencional, propondo ums reforma psiquiátrica.

Esta reforma psiquiátrica prevê um novo modelo de tratamento, até então inexistente e impensável pelos profissionais da saúde, pois a partir deste, é oferecida uma autonomia ao doente mental, que nunca foi dada antes, agora, o doente pode ser responsável por sua vida e por seus atos e não mais assumir o papel de “paciente” não apenas em sua doença, mas em sua vida.

Os hospitais psiquiátricos, em sua antiga forma, são criados para manter, classificar e diagnosticar os doentes mentais, que são frutos da própria sociedade em que vivem.

No momento em que este sistema não existe, há um movimento de substituir os antigos modelos para então haver a reconstrução de novas soluções e desafios em prol de transformar a história no sentido positivo. Este é o objetivo da reforma psiquiátrica, o emprenho dos envolvidos em formar e transformar um novo espaço de vivência.

Desde muito tempo, pensa-se em tipos de tratamento para os doentes mentais. Surge no Egito, 25 a.C., a comunidade terapêutica com a finalidade de curar a servir. Os membros desta comunidade viviam em casas próximas o suficiente para proteção, e ao mesmo tempo longe o suficiente para não atrapalhar a sua individualidade.

Porém, atualmente, esta não é a realidade das instituições de tratamento mais conhecidas e apoderadas por esta autonomia.

Durante a história da humanidade, diversos pioneiros surgiram, tentando estabelecer novas formas de comunidade terapêutica, como Maxwell Jones, Wilmer, Artiss e Cooper.

Todos os nomes da antipsiquiatria, que lutaram por uma forma de tratamento ético, tiveram uma participação muito significativa, combatendo o conceito presente em toda história da psiquiatria, onde instituições são criadas para controlar estes pacientes, que destoam a ordem social, com o uso de repressão física, da camisa-de-força e dos medicamentos e eletrochoques utilizados na psiquiatria moderna.

Os movimentos pela inclusão, que vão contra esta forma de atuação proveniente da psiquiatria, defendem que o paciente deve possuir uma autonomia, ou seja, este deve ser independente dos enfermeiros no hospital, assim como de seus pais.
A reforma psiquiátrica deve vir através de uma mudança no pensamento social, a fim de modificar a visão estereotipada da loucura, nos dando a possibilidade de conhecer o outro em sua originalidade e a partir desta, conhecer nossas próprias limitações em relação ao outro e a nos mesmos.

















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