quinta-feira, 15 de julho de 2010

Nos estamos tão acostumados a viver nossas vidas querendo ou não alguma coisa, que as vezes não paramos pra pensar se é realmente nossa vontade falando.

Somente quem é pode desejar e em minha experiência clínica percebo um "mal comum", onde os pacientes que chegam ao meu consultório derivam de uma ausência de desejo, proveniente da ausência de Self, de ser.

Self significa si mesmo e é o conhecimento que o indivíduo tem de si mesmo e de suas próprias ações e relacionamentos interpessoais. É como o indivíduo se percebe e se constitui no mundo.

É o self que permite que o sujeito se apresente ao mundo como um ser desejante, com querer próprio e sem ele não podemos ser e estar no mundo de forma saudável, apenas vivemos através das experiências dos outros e não a partir de nossas próprias vivências.

Através da psicanálise, aprendemos que o Self só existe através das relações que se estabelecem no início da vida. Para Winnicott, esta relação importante se dá através do encontro entre a mãe e o bebê e é a partir deste que o bebê se tornará um corpo e que posteriormente, se constituará como um adulto saudável e desejante no mundo.

A mãe é o primeiro ambiente do bebê e esta exerce a função de integrar ao bebê um ambiente externo e novo possibilitando então o desenvolvimento individual. É a mãe que permite que a criança inicie um processo real de desenvolvimento, ou seja, oferece um apoio a esta que possui um Self fraco e forte ao mesmo tempo. Neste momento, o bebê não existe ainda no mundo, existe apenas através do olhar da mãe.

Portanto, o que permite que o bebê se constitua como um individuo desejante é a mãe, que significa o bebê como um corpo. A mãe intui o corpo do bebê em seu tempo e espaço próprio e é capaz então de criar o bebê e seu corpo através de encontros, desencontros e significados. Para Winnicott, o corpo não se constitui somente através do biológico e sim também de todas as experiências vividas através das relações iniciais. O adulto se constitui e se relaciona como aprendeu na infância.

Por isso, deve haver um espelhamento entre a mãe e o bebê que permite a estruturação do self. A mãe deve permitir ser criada pelo bebê e esta deve então tornar o bebê um ser que experimenta da criatividade e posteriormente do desejo.

O analista frente ao paciente possui a mesma função que a mãe frente ao bebê. É somente através desta relação que se dá uma analise satisfatória.

Nesta, é o outro que deve conduzir e induzir o tempo e o espaço, para que o analista possa então estar e entender o outro que se apresenta, como ele realmente é.

Nosso papel de analista é muito importante para a vida e constituição de muitos dos outros que se apresentam a nos, em nossos consultórios e em nossas vidas, tornando serem não desejantes, que não possuem um self verdadeiro e real em adultos que "...sintam que estão vivendo sua própria vida, asumindo responsabilidades pela ação ou pela inatividade, e sejam capaz de assumir os aplausos pelo sucesso ou as censuras pelas falhas. Em outras palavras, pode-se dizer que o indivíduo emergiu da dependência para a independência, ou a autonomia." (Winnicott, 2006)

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