domingo, 20 de março de 2011



Clausura versus Liberdade
A maneira como a Saúde Mental é vista no Brasil, suas resistências e a procura pelo respeito aos direitos humanos
*ARTIGO PUBLICADO EM 16/05/2008 NO JORNAL GAZETA GUAÇUANA

As maneiras de pensar e tratar a loucura são alvos de diversas discussões que caminham, há mais de 20 anos, visando mudanças no âmbito da saúde pública. Um dos principais objetivos dessas mudanças ainda designa polêmica: a extinção progressiva dos hospitais psiquiátricos e, como substituto, a instalação de uma rede de serviços de atenção à saúde mental que leve em conta a liberdade e o acesso à cidadania dos portadores de sofrimento ou transtorno mental.

A História da Loucura

A Loucura, hoje vista com olhos diferentes, nem sempre foi considerada algo negativo, ou até mesmo doença. Na Grécia antiga ela já foi considerada até mesmo um privilégio. Filósofos como Sócrates e Platão, ressaltaram a existência de uma forma de loucura tida como divina e era através do delírio que alguns privilegiados podiam ter acesso a verdades divinas. Tal fato, não impedia os “privilegiados” de viverem no meio das pessoas “normais”.
Gradativamente, a loucura vai se afastando do seu papel de portadora da verdade e vai se encaminhando em uma direção completamente oposta, passando a excluir o louco da sociedade, pois estes começam a incomodar.
Os primeiros estabelecimentos criados para limitar/esconder a loucura destinavam-se simplesmente a retirar do convívio social as pessoas que não se adaptavam a ele.
No século XIII, a loucura passa a ser objeto do saber médico, começa a ser caracterizada como doença mental e, portanto, torna-se passível de cura. A razão/normalidade ocupa um lugar de destaque, pois é através dela que o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade. É em meio a esse contexto que o hospital surge como um espaço terapêutico.
Para garantir seu funcionamento, o modelo hospitalar necessitava da instauração de medidas disciplinares que visassem garantir a nova ordem. Surge então, uma delimitação desse espaço físico, onde são fundamentais os princípios de vigilância constante e registro contínuo, de forma a garantir que nenhum detalhe escape a esse saber. O hospital acaba por tornar-se um mundo à parte, afastando cada vez mais o indivíduo de suas relações exteriores. O discurso que alimenta esse sistema percebe os loucos como seres perigosos e inconvenientes que, em função de sua "doença", não conseguem conviver de acordo com as normas sociais. Retira-se, então, desse sujeito todo o saber acerca de si próprio e daquilo que seria sua doença.
Durante os séculos, muitos métodos desumanos foram utilizados para tornar o “louco” adequado às regras da sociedade, podemos citar como exemplo, furos no crânio, sangrias, afogamentos, comas insulínicos, indução de convulsões, lobotomia, eletrochoques, etc.
Um cenário propício ao o surgimento dos movimentos reformistas da psiquiatria desponta com o pós-guerra. Começam a surgir, em vários países, questionamentos quanto ao modelo centrado no hospital psiquiátrico, apontando para a necessidade de reformulação.
Uma importante questão nessa concepção de reforma diz respeito ao conceito de "doença mental", o qual passa a ser desconstruído para dar lugar à nova forma de perceber a loucura enquanto "existência-sofrimento" do sujeito em relação com o corpo social.
Em continuidade ao processo da Reforma, em 1987, 1992 e 2001, foram realizadas as Conferências Nacionais de Saúde Mental, que possibilitaram a delimitação dos objetivos da reforma psiquiátrica brasileira atual e a proposição de serviços substitutivos ao modelo hospitalar. Dentre os marcos conceituais desse processo destacam-se o respeito à cidadania e a ênfase na atenção integral, onde o processo saúde/doença mental é entendido dentro de uma relação com a qualidade de vida.

A Reforma Psiquiátrica

Muitos dos chamados “loucos” passaram suas vidas em instituições, perdendo a própria saúde e até mesmo sua cidadania, pois quando retornavam à sociedade, após alta, eram discriminados e não conseguiam a sua re-inserção.
Somente no final dos anos 70, se começou a pensar em alterar essa realidade. Neste contexto, surge a Reforma Psiquiátrica, a qual propõe a desinstitucionalização, ou seja, que o atendimento aos “loucos” ocorra de forma mais humana, fora dos hospitais psiquiátricos.
Propõe também, que exista uma rede de cuidados para os doentes mentais, abrangendo todas as suas necessidades. Essa rede deve localizar-se próxima as suas residências, apresentando atendimento diário. Assim não é preciso retirar o doente mental de sua convivência familiar e social.

Instrumentos de atenção aos doentes mentais fora de um hospício:
CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) onde são oferecidos atendimento médico, psicológico, psiquiátrico, assistência social, dentre outros. Uma de suas propostas são as oficinas terapêuticas, tais como: artes e bijuterias, as quais, tem como um dos objetivos a obtenção de renda.
Residências Terapêuticas, casas onde os doentes mentais podem residir (os que não possuem família, ou que a mesma não os quer mais), reintegrando-os à sociedade.
Programa de Volta para Casa, o doente mental que deixou o hospital psiquiátrico, pode vir a receber um auxílio mensal, o qual, contribuirá para sua emancipação.

O objetivo central da Reforma Psiquiátrica é que todo ser humano, sendo ele doente mental ou não, tenha sua singularidade respeitada.
“Portadores de transtornos mentais têm direito à liberdade, ao trabalho, à moradia e à convivência social”.

quarta-feira, 16 de março de 2011


"Nunca pense em termos de os outros terem que amar você. Isso é uma atitude errada; está enraizada na infância. Uma criança simplesmente espera ser amada. E, é claro, é natural para uma criança, porque, como a criança pode amar? Uma criança de um dia de idade - como ela pode amar? Ela não pode nem sequer segurar o dedo da mãe. Ela não pode fixar seus olhos na mãe; tudo é turvo. Ela não sabe quem é a mãe e quem é quem. Como você pode esperar que ela ame? Ela simplesmente recebe amor.

Pouco a pouco ela aprende uma coisa: que os outros têm que amá-la. Isso é bom na infância, mas a pessoa tem que ir além - só então você se torna um adulto. Um homem se torna um adulto no dia em que ele começa a sentir que agora ele tem que amar. Não é uma questão de alguém amá-lo.

... Você não é ma is uma criança. Você está se comportando dentro de um padrão infantil. Comece a amar. Quanto mais você amar, mais você verá que mais pessoas estão vindo até você para amá-lo, porque o amor atrai amor assim como o ódio atrai ódio.

Se você odiar, as pessoas o odiarão. Se você amar, as pessoas o amarão. Mas não se incomode se os outros o estão amando ou não. Simplesmente ame. Amar é uma atividade tão prazerosa - quem se importa se há algum retorno ou não? É como cantar. Você canta e se deleita. Se alguém aplaude, ótimo. Se ninguém aplaude, é uma questão deles. Você se deleita da mesma forma.

Comece a amar. E não peça amor. O amor será uma conseqüência natural..... Ele é uma graça. É um presente. Ele vem porque toda a existência está cheia de amor. Não é porque você tem capacidade, não é porque você tem algum valor que ele vem para você. Não, ele vem para você porque toda a existência é cheia de amor. A existência é feita da matéria chamada amor. É exatamente como o ar que o circunda. Você simplesmente inspira e expira e a coisa continua.

Assim, esqueça sobre merecimento. Comece a amar, e você verá o amor chegando, florescendo. Ele vem mil vezes mais. Simplesmente compartilhe e continue a meditar".


Osho, The Passion for the Impossible.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Faz um tempo que não apareço por aqui... estive focada em alguns projetos em minha vida pessoal e profissional que me impossibilitaram de estar mais presente.

Mas voltei, próximo ao final do ano, para dizer o quanto este ano foi bom e o quanto o meu papel de psicóloga se enraizou a cada dia em mim, e cada paciente presente em minha vida foi importante para isso.

Acredito que o terapeuta é capaz de conhecer o paciente como ele realmente é e o que tenta esconder do resto do mundo, pois na terapia, não há medo do julgamento, apenas aceitação, escuta, acolhimento e sinceridade.

Costumo dizer aos meus pacientes que, por ter uma linha psicanalítica, procuro sempre falar o que me vem à cabeça, em qualquer momento, expressão ou fala que ele tiver e que a terapia acontece de uma forma natural e melhor quando ele próprio faz o mesmo. Deve haver sinceridade, para que este relacionamento tão lindo seja construído.

O relacionamento terapeuta versus paciente é especial e único, pois vai além da amizade ou da familiaridade, é algo como um a extensão dos desejos e sonhos do paciente e o papel do terapeuta é criar e permitir o espaço para que estes saiam da prisão que muitas vezes se colocam.

Há diversas linhas e formas de atuação do terapeuta, assim como há uma grande diversidade de pacientes com suas demandas que chegam à ele. Muitas vezes vemos a terapia não fluir com um terapeuta e fluir com outro, que possui uma linha totalmente diferente e isso é completamente normal, pois as pessoas são diferentes, assim como os terapeutas e cabe à cada paciente encontrar o que é capaz de mostrar e desenvolver o que possui de melhor, pois as teorias podem ser diferentes em termos de conceitos e nomenclaturas, mas todas tem em comum a importância do relacionamento entre terapeuta e paciente.

Com certeza, eu ganhei muito este ano com todos os pacientes que me pediram para caminhar ao seu lado e espero ter correspondido pelo menos com metade de suas expectativas.

É muito mais fácil do que imaginamos a construção e destruição de conceitos e vivências, o difícil é perceber a hora certa de cada uma destas ações.


Obrigada à todos que estiveram comigo este ano e até 2011.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

As faces da loucura (http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT832764-1719-2,00.html)

por: Camila Artoni

A própria loucura é uma palavra difícil de conceituar. João Augusto Frayze-Pereira, professor do Instituto de Psicologia da USP, autor de "O Que é Loucura", propôs o tema a universitários e pré-universitários e chegou a diversas acepções diferentes. O grupo apontou as seguintes idéias como resposta: um estado de perda de consciência; um distúrbio orgânico, a doença que existe há mais tempo ha história dos homens; um desequilíbrio emocional cuja origem é o desajustamento do indivíduo dentro da sociedade em que vive; todo tipo de desvio do comportamento pessoal em relação às normas; um estado progressivo de desligamento ou fuga da realidade; uma tomada de consciência de si e do mundo.

Todos esses enunciados cobrem, com maior ou menor precisão, a noção popular de loucura. Mas não fazem uma distinção que é essencial para a identificação do problema - loucura e distúrbio mental, hoje em dia, não são sinônimos e precisam ser entendidos como coisas diferentes.

Estado natural
Popularmente há uma tendência em se julgar a sanidade da pessoa de acordo com seu comportamento ou com sua adequação às conveniências socioculturais como, por exemplo, a obediência aos familiares, o sucesso no sistema de produção ou a postura sexual. Para a psiquiatria moderna, no entanto, doença mental é a variação capaz de prejudicar a performance da pessoa, seja no trabalho, em família ou em qualquer outra esfera social ou pessoal, afetando sua vida e a das pessoas com quem convive.

O psiquiatra e psicoterapeuta Paulo Urban explica que nem sempre a loucura pode ser associada a uma doença. Às vezes, ela é só um atributo da psique. "A loucura é associada ao transe, ao comportamento desviante. Isso pode se manifestar como genialidade ou como uma negação de normas que faz o louco ser, às vezes, até melhor adaptado do que uma pessoa 'normal'. Já as doenças mentais são um quadro grave e pedem tratamento. A loucura, em muitos sentidos, pode ser um estado natural positivo", diz o médico. "Como o louco do tarô, arquétipo do homem que está entre o tudo e o nada, superior à condição humana."

A definição de loucura como doença, aliás, é recente na civilização oriental. O seu surgimento acontece quando as incertezas científicas são abandonadas e aparece a medicina racional contemporânea. O divisor de águas é a valorização da razão. É nessa fase, e por esse motivo, que os loucos começam a ser isolados. "No mundo moderno das doenças mentais, o homem não se comunica mais com o louco", afirma Frayze-Pereira. "Com o corte entre razão e não-razão, há, de um lado, o homem racional que encarrega o médico de lidar com a loucura. E, de outro, o louco, que vive uma racionalidade abstrata. Entre eles não há linguagem comum."

Isso nem sempre foi assim. Na Antiguidade , a loucura era considerada uma manifestação divina. A epilepsia, conhecida como "a doença sagrada", significava maus presságios. Se uma pessoa sofresse um ataque epiléptico durante um comício, por exemplo, o evento era interpretado como uma intervenção dos deuses. Era um sinal de que não se deveria acreditar no que dizia o orador.

Raciocínio incomum
A existência de uma ligação entre loucura e genialidade não é consenso na comunidade científica, mas sabe-se que entre criadores excepcionais, em especial artistas, como o escritor irlandês James Joyce (1882-1941) e o pintor Amedeo Modigliani (1884-1920), uma grande parcela sofre de distúrbios psiquiátricos. O reflexo na inteligência lógica, porém, ainda está em debate. O que as pesquisas mostram é que, ao contrário do conceito popular, pessoas com esquizofrenia não são mentalmente retardadas. Na verdade, muitos desses pacientes apresentam QI ou desempenho acadêmico acima da média. O transtorno provoca problemas cognitivos, como falta de concentração e dificuldade em abstrair o pensamento, mas não afeta a inteligência. O matemático John Nash é um exemplo disso. Famoso sofredor de paranóia, foi ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1994. Para o bioquímico inglês David Horrobin (1939-2003), a esquizofrenia teria até mesmo ajudado a moldar a humanidade - sujeitos com a doença teriam um grande variedade de habilidades e interesses, fazendo a nossa evolução caminhar.
Na Idade Média, no entanto, algumas cidades confiavam os loucos a mercadores. Havia barcos que os levavam de uma cidade para outra, onde vagavam como errantes. Era comum a Europa ver naus de loucos atracarem em seus portos. Muitos outros, porém, acabavam acorrentados, exorcizados ou queimados.

Uma das razões para isso é que a psicopatologia medieval associava a loucura à possessão diabólica. E embora essa forma de pensar tenha raízes na própria formação doutrinária do cristianismo, o raciocínio acabou funcionando como uma justificativa religiosa para a repressão às heresias ou um recurso para impor a ortodoxia teológica e moral.

Assim como a idéia da loucura mudou com as épocas, existem também variações culturais. O que nós caracterizamos como loucura pode não ser para um outro grupo. A noção de loucura é diversificada e relativa, uma vez que cada grupo tem uma linguagem particular para defini-la, e essas diversas linguagens implicam também práticas diversas. Enquanto em algumas regiões o louco participa do convívio familiar, em outras o paciente é isolado. Há aqueles que, ao depararem com esses problemas, buscam soluções na religião. Outros procuram a intervenção médica ou psicológica.

Fim da linha para os alienistas
O século 17 viu aparecerem os primeiros asilos para doentes mentais. Muitas vezes essas casas funcionavam em locais onde, antigamente, estavam os leprosários. Extinto um grupo destoante, a classe de excluídos era agora outra. Precisava-se de outro fenômeno que seria seu novo bode expiatório. Os loucos foram então sistematicamente suprimidos e enclausurados.

No Brasil, o problema da instituição psiquiátrica vem sendo discutido por diversos setores da sociedade há pouco mais de 15 anos. O Movimento Nacional da Luta Antimanicomial nasceu em 1987 entre os trabalhadores de saúde mental, que decidiram se posicionar contra o encarceramento de pacientes e propor alternativas terapêuticas ao portador de transtornos psíquicos.

Mais de 60 mil pessoas estão encarceradas no país. E as formas de tratamento que assombravam os manicômios há quatro séculos não foram abandonadas, apenas modernizadas. Mesmo portadores de doenças mentais não-agressivas são submetidos a sedativos, eletrochoques, indutores de coma e até lobotomias.

À mercê da moral
Essas diferentes posturas em relação à loucura mostram que, ao longo da história, o juízo de valor foi o principal termômetro da normalidade. "Seja movido pela cultura ou por interesses mercadológicos - que é o que faz, hoje, a indústria farmacêutica ao criar medicamentos para doenças que nem existem -, um discurso sempre vence. É a ação do dominante sobre o dominado. A classificação e marginalização de algumas posturas como doenças vem, muitas vezes, do preconceito contra o que é ainda desconhecido", afirma o psiquiatra Paulo Urban.

Mais recentemente, as pesquisas começaram a apontar para causas bioquímicas das doenças mentais. A relação observada entre doenças orgânicas e mentais levantou a lebre para a existência de razões bioquímicas para distúrbios psiquiátricos, o que despertou um grande interesse pelas bases neuronais do comportamento humano. Graças a isso, as descobertas avançaram. Hoje, sabe-se o papel dos neurotransmissores e entende-se sua importância nas alterações de humor.

Enigma persiste
Mas a neurociência não é capaz de dar respostas completas sobre a causa de todos os transtornos. Há outras doenças cujas causas orgânicas permanecem obscurecidas em alguns pontos. "Pacientes com psicose, por exemplo, não apresentam nenhuma alteração biológica. Anatomicamente, seu cérebro também é perfeitamente saudável", diz Urban. "A neurociência é avançada tecnicamente, mas não é exaustiva. Por isso, não pode ser considerada o único discurso da verdade."

Mesmo com todas as tentativas de situar a loucura como doença orgânica e de tentar compreendê-la subjetivamente, nenhuma das visões ainda tirou dos loucos o estigma que eles carregam. Nos dias de hoje ainda temos vontade de afastá-los, pois não os compreendemos. São incoerentes, insensatos. Mas, afinal, quem não é?

Conheça algumas faces que a loucura pode ter


Défcit de atenção (DDA)
O que é:
Transtorno neurobiológico caracterizado por desatenção, inquietude e impulsividade
Sintomas: Dificuldades na escola e no relacionamento interpessoal, problemas com regras e limites
Como começa: Aparece na infância e freqüentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Causas são genéticas
Tratamento: Psicoterapia

Síndrome do pânico
O que é:
Ataques recorrentes de ansiedade aguda e intensa
Sintomas: Palpitações, sudorese, tremores, falta de ar, dores no peito, náusea, vertigem, ondas de frio e calor, medo da morte, medo de enlouquecer
Como começa: Causas podem ser psicológicas (reação a um estresse), físicas (ex. abuso de álcool) ou genéticas
Tratamento: Medicação com psicoterapia

Esquizofrenia
O que é:
Psicose em que o paciente se afasta da realidade e acaba construindo um mundo particular
Sintomas: Alucinações auditivas e somáticas, sensação de ter as ações controladas por algo de fora
Como começa: Sem causas conhecidas
Tratamento: Em 90% dos casos é incurável

Bipolaridade (PMD)
O que é:
Transtorno afetivo caracterizado por altos e baixos
Sintomas: O paciente apresenta períodos de intensa depressão, podendo levá-lo ao suicídio, e períodos de intensa euforia (mania) que causam graves distúrbios sociais
Como começa: Não depende de disparador; causa é genética
Tratamento: Reguladores de humor podem evitar os períodos de recaída

Personalidade múltipla
O que é:
Distúrbio dissociativo em que a pessoa se comporta como se estivesse "fora de si"
Sintomas: Mudanças bruscas de comportamento, geralmente autodestrutivas
Como começa: Pelo que se sabe até agora, é conseqüência de um sofrimento muito grande na infância ou no início da adolescência, principalmente abuso sexual
Tratamento: Medicação com psicoterapia

TOC
O que é:
Obsessão e compulsão com ansiedade extrema
Sintomas: Repetição involuntária de gestos, rituais, pensamentos e atividades, apesar da noção de que nada disso faz sentido
Como começa: Não se sabe ainda a causa exata, mas pesquisas sugerem que exista uma disfunção de neurotransmissores em certas regiões do cérebro
Tratamento: Medicação com psicoterapia

Demência
O que é:
Deterioração da função mental
Sintomas: Desorientação, perda de memória, incapacidade de interpretar aquilo que sente, ouve ou vê, dificuldade na realização das atividades cotidianas, fala e escrita comprometidas
Como começa: Pode decorrer de lesões cerebrais ou de complicações vasculares. Ocorre na velhice
Tratamento: Cirurgia

Anorexia
O que é:
Distúrbio alimentar (temor intenso de ganhar peso)
Sintomas: Emagrecimento, destruição do esmalte dentário, pele seca e amarelada, cabelos quebradiços, visão distorcida do próprio corpo
Como começa: Causa desconhecida. Provavelmente componentes psicológicos, biológicos, ambientais e culturais misturados
Tratamento: Antidepressivos, psicoterapia e orientação nutricional

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Trabalho ajuda no tratamento de pessoas com esquizofrenia, confirma estudo

Terça, 14 Setembro 2010 14:19
por: O Estado de S.Paulo

O trabalho melhora de forma significativa o desempenho intelectual de pessoas com esquizofrenia, além de diminuir sintomas da doença, como apatia e isolamento. É o que mostra um estudo do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq-USP).

"As pesquisas realizadas até agora mostravam que pacientes com melhor desempenho cognitivo tinham mais chances de ingressar no mercado profissional", aponta Wagner Gattaz, presidente do conselho do IPq e um dos autores do trabalho. "Comprovamos que a relação inversa também é verdadeira: como diz o ditado, "trabalho faz bem para a cabeça"."

O estudo, publicado na revista científica Schizophrenia Research, reúne os resultados do Programa Reação, iniciativa do IPq que, de outubro de 2003 a abril de 2010, conseguiu inserir cerca de cem pacientes em estágios de reabilitação vocacional em São Paulo. Empresas parceiras acolhiam os estagiários sem nenhum ônus. O programa oferecia bolsa mensal de R$ 200 como ajuda de custo para os pacientes.

A ideia do programa surgiu quando Gattaz lecionava na Universidade Heildelberg, na Alemanha. Ele implantou uma ação semelhante em Mannheim, incorporada mais tarde pelo programa local de seguridade social.

A neuropsicóloga Danielle Soares Bio, que também assina o estudo, enumera o perfil dos participantes: pessoas que, em média, conviviam com a esquizofrenia por mais de oito anos e iniciaram o tratamento por volta dos 21 anos. Como pré-requisitos, elas deveriam apresentar boa adesão ao tratamento com os remédios prescritos pelo psiquiatra e quadro clínico estável durante os seis meses anteriores ao programa.

Não havia nenhuma obrigação das empresas parceiras de contratarem os estagiários. Mesmo assim, 42% foram efetivados. "O porcentual seria ainda maior se todos os pacientes contassem com o apoio da família", pondera Danielle, recordando que algumas famílias receavam abrir mão do seguro-desemprego.

Para Gattaz, o trabalho mostra o desejo dessas pessoas de reencontrarem seu lugar na sociedade. "Também sugere que parte da diminuição do rendimento cognitivo é fruto da inatividade, da baixa estimulação intelectual", afirma o pesquisador.

Marcelo (nome fictício) participou do Programa Reação. Depois de seis meses trabalhando em uma organização não governamental na região central de São Paulo, recebeu o convite para ingressar no quadro de funcionários. "Fiquei contente, pois gosto muito do ambiente daqui", diz ele. "A oportunidade ajudou no meu tratamento." Marcelo fala com orgulho do trabalho realizado em uma instituição que promove valores como o aprofundamento da democracia e a responsabilidade ecológica. "Agora, sinto-me útil", resume.

Os depoimentos de empresários também revelam satisfação com o programa. Danielle recorda que, antes e depois do estágio, o empregador também passa por um teste que estima o grau de compreensão e tolerância com transtornos mentais. "Empresas que atuam como parceiras já são instituições com boa consciência social", aponta. "Mesmo assim, com o programa, notamos que muitos receios e incertezas desaparecem."

Nos últimos meses do projeto, pessoas com outros transtornos mentais - como depressão e transtorno bipolar - também participaram do programa. Elas não foram consideradas no estudo publicado na Schizoprenia Research. O trabalho comparou 57 pacientes com esquizofrenia que ingressaram no estágio e um conjunto de 55 pessoas com o mesmo diagnóstico que estava na lista de espera. Gattaz confia na eficácia da estratégia para outros transtornos mentais.

Segundo dados do Ministério da Previdência Social, 13.478 pessoas receberam auxílios-doença por transtornos mentais e comportamentais no ano passado.

Números concernentes:

42 empresas participaram do projeto

42% dos estagiários do programa foram contratados

Fonte: Estadão

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Artigo postado em: http://www.revistafeminina.com.br em 09/09/2010

Relacionamento Por Conveniência

Quem já não manteve um relacionamento por conveniência, em busca de seu próprio bem estar, havendo a anulação do outro como indivíduo desejante no relacionamento, que atire a primeira pedra.

Há diversas formas de se relacionar por conveniência, e não apenas em um relacionamento amoroso, muitas vezes, encontramos em nossa vida pessoas que se relacionam com todas as outras por um único objetivo: seu próprio bem estar e prazer.

Há um sentimento de narcisismo presente em todos estes relacionamentos, onde tudo o que é feito, passa pelo pensamento sobre si mesmo, anulando o outro como participante ativo no relacionamento ou se anulando completamente para ser aceito e não perder a posição que o relacionamento lhe possibilita.

Narcisismo é o encantamento e a paixão que sentimos por nossa própria imagem, nós mesmos, porque não conseguimos diferenciar um do outro. Conta o mito que o jovem Narciso, que era belíssimo, nunca tinha visto sua própria imagem. Um dia, passeando por um bosque, encontrou um lago, ao aproximar-se viu nas águas um jovem de extraordinária beleza, pelo qual apaixonou-se perdidamente. Desejava que o jovem saísse das águas e viesse ao seu encontro, mas como ele parecia recusar-se a sair do lago, Narciso mergulhou até as profundezas à procura do outro que fugia e morreu afogado. Narciso morrera de amor por si mesmo, ou melhor, de amor por sua própria imagem que não identificou como sendo dele.

Em 1914, Freud - o pai da psicanálise - afirma que abrem-se para o indivíduo duas possibilidades que se apresentam como uma alternativa no início da vida: ou o sujeito toma o outro (a mãe) como objeto de amor, ou toma a si mesmo. Diz, porém, que se a escolha do sujeito recair sobre ele mesmo, ou seja quando o seu objeto de amor for única e exclusivamente ele mesmo, haverá conflitos que impõem um sofrimento e uma ameaça.

O narcisismo é importante no início da vida, para a constituição de si mesmo e do Ego, porém, a partir do momento em que ele passa a ser um obstáculo nas relações, deve ser cuidado.

Tanto os últimos artigos psicanalíticos quanto os discursos sociais de todas as ordens acreditam que o narcisismo reina soberano como o grande malvado, como obstáculo para o desenvolvimento de relações menos dolorosas e mais vazia, na era contemporânea.

Se observarmos a paisagem desenhada ao nosso redor após o vendaval revolucionário dos anos 70, veremos que os relacionamentos em todas as ordens, incluindo o conjugal, apresentam-se mutáveis e movimentados. A antiga estabilidade da família nuclear parece ameaçada pelos casamentos desfeitos, os papéis masculinos e femininos foram radicalmente alterados e o amor já não goza do mito de eternidade. Nos questionamos se há ainda o amor.

O narcisismo e o amor não existem da mesma forma, em um mesmo lugar, pois o narcisismo é a não capacidade de amar o outro por estar voltado a si mesmo.

Observamos relacionamentos cada vez mais meteóricos na era
pós industrial, em que há uma busca incessante pelo prazer, onde a vida precisa ser desfrutada e para isso é necessário que se possua tudo que for desejável, de objetos a pessoas. Tudo é tratado como mercadoria, podendo então ser comprado, descartado e manipulado conforme sua própria vontade.

Se há a necessidade de algo como atenção, amor, sexo proteção, se há carência, há um motivo para a busca do que falta, sem pensar nas conseqüências para si mesmo ou o outro que é envolvido nesta relação.

A partir destas necessidades narcísicas, os relacionamentos por conveniências são criados, relacionamentos por dinheiro, por posição social, aparência, carência ou qualquer outro motivo que torne o relacionamento esvaziado, perduram por muitos anos sem a importância pela dor, pois há uma anulação em prol do objetivo que é o si mesmo.

Deve haver um questionamento quanto à posição de cada um no relacionamento: vale a pena a anulação, para qualquer que seja o objetivo?

Psicorienta: O que faz você Feliz???

Psicorienta: O que faz você Feliz???

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Depressão

“Somos uma sociedade de pessoas com notória infelicidade:solidão, ansiedade, depressão, destruição, dependência; pessoas que ficam felizes quando matam o tempo que foi tão difícil conquistar.”

Erich Fromm

Segundo pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da USP, coordenado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), 10.9% da população da grande São Paulo sofre de depressão, o equivalente à 2.16 milhões de pessoas na metrópole.

Segundo a pesquisa, realizada ao redor do mundo com 89 mil pessoas, São Paulo além de estar entre o grupo de 17 regiões analisadas, possui a maior taxa de depressão dentre estas. A faixa etária mais atingida pela doença esta entre 18 e 49 anos.

Nos termos da psiquiatria, a depressão se caracteriza por uma profunda tristeza acompanhada de sentimentos de desamparo e baixa auto-estima, onde não reconhece ninguém como sendo capaz de lhe prover ajuda. Somente 25% das pessoas que sofrem com a depressão procuram ajuda médica especializada e a média de 10% a 15% dos pacientes que não procuram ajuda tentam suicídio.

É comum também a auto-recriminação, sendo que o deprimido se considera uma pessoa com menos valia para o convívio humano. Em geral, quase todas as esferas da existência humana ficam comprometidos na depressão, os aspéctos emocional, fisiológico e social.

A Depressão é a doença que mais vemos em nosso dia a dia, em um momento do vazio, onde cada vez mais as pessoas perdem sua identidade e seus momentos de felicidade por conta da busca pela produtividade.

Esta é criada e mantida socialmente, como reflexo de nossos tempos, amparada pela absoluta falta de investimento social e nos relacionamentos humanos. Nossa vida é baseada no egoísmo e individualismo, que se expõe através dos sintomas da depressão.

Há um paradoxo social contemporâneo que convivemos em nosso dia a dia, pois ao mesmo tempo em que há um crescente número de pessoas que nascem todo dia, há ainda um sentimento solitário muito grande que passeia pelo dia a dia de quase todos. Existir no mundo não significa interagir com o mundo em que vivemos.

Muitas são as situações que geram esta solidão (a gerada pelo próprio poder, pela riqueza, pelo trabalho ou a falta dele, pelos pais, pelo abandono, pela rejeição ou pela falta de algo ou alguém) e em todas estas, há sempre a presença de um outro que não permitimos ou não se permite entrar em contato com nossa própria realidade. Já não se sabe quem deu o primeiro passo, se foi quem sofre com a solidão ou quem a causa.

A Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio mostra que houve um aumento significativo do número de solitários no Brasil. Entre os anos de 1988 e 1999 houve um aumento de 137%, ou seja, 3.8 milhões de pessoas que moram sozinhas, principalmente nas regiões de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Esta pesquisa não revela o sentimento de solidão (o que evidentemente revelaria um universo ainda maior desta população), apenas aponta os que moram sozinhos e também um significativo aumento de pessoas que vivem sozinhas por opção ou por imposição.

A tendência individualista de nossa época reforça o temor de conviver com as diferenças humanas, afinal, conviver com o outro implica, sobretudo, em sermos tolerante, compreenção com o outro, divisão de espaços e coisas, além da aceitação de que o outro não atenda completamente a demanda de preencher nosso vazio existencial, o que faz com que menos pessoas se arrisquem em investir em relacionamentos duradouros.

No universo dos sozinhos existem aqueles que o fizeram por opção pessoal, e aqueles que devido às contingências da vida foram obrigados a viverem desacompanhados.

O isolamento social obrigatório é muito diferente do viver sozinho “por opção”. No primeiro, existe a imposição do social ao qual fazemos parte ou das circunstâncias que estão fora de nós mesmos, no segundo, a escolha é consciente e desejada. Quando a solidão não é uma escolha torna-se difícil pensar na atuação no mundo sem sofrimento e com sentido.

O homem se acostumou a viver de forma solitária e a criar projetos individuais, o que acarretou um preço exorbitante em termos de saúde psíquica.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010



Todos nascemos com um objetivo, somos criados para isso, buscamos a tão sonhada felicidade e realização pessoal através de nossos sonhos.



Crescemos em um ambiente completamente consumista e o sentimento de busca é implantado em nos. Presentes parecem contratos que se sobrepõe ao ser e cria-se uma batalha interna, que somos criados para vencer.



Nunca estamos satisfeitos com o que temos e conquistamos em toda uma vida e sempre procuramos o melhor trabalho, a melhor condição social, o melhor namorado, o melhor carro, transformando assim serem humanos em máquinas programadas pra competir pelos sonhos que passaram a defender.



O lado humano, a cada dia que passa é o menos priorizado, pois não sobrou tempo para ouvir as histórias, observar as pessoas que amamos, perceber nossos próprios sentimentos e fazer as coisas que realmente trazem os momentos de felicidade em toda plenitude da palavra.



Será que os sonhos que buscamos realizar continuam sendo os nossos?

Esta reflexão é necessária, essa busca de si mesmo, essa introspecção, para que tenhamos a consciência de que talvez estejamos buscando o que já nos pertence, valorizando em outro local aquilo que temos ao nosso lado, sonhando com conquistas e objetivos que já atingimos, mas que por estarmos envolvidos demais, estressados demais, não nos damos conta, não prestamos à devida atenção.